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Mostrando postagens de 2019

Oi, tudo bem?

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Uma vez ouvi um pastor falar sobre essa simples pergunta: tudo bem? Na verdade ele reclamou das pessoas que acabam respondendo com sinceridade, em meio a piadas, chamando de chatas e desagradáveis aquelas que ousavam ir além do “tudo bem sim”. A congregação, como plateia de um show stand up, ria e concordava. Eu fiquei incomodado. Se um pastor, cuja função seria ajudar as pessoas, reclama e zomba de quem acredita que poderia confiar a ponta de dizer que às vezes as coisas não estão bem, imagine o restante das pessoas? Foi decretado oficialmente o abafamento de qualquer sentimento, a exaltação das aparências, a opção pela não humanidade. Sim, a gente acha chato quem se abre conosco. Se alguém vem contar algum problema, já fazemos questão de contar um maior ainda para a pessoa se tocar que não é somente ela que sofre, então fechamos a porta do diálogo e vamos vivendo nossas dores solitariamente. É claro que não vamos despejar nossa vida a qualquer hora e a qualquer mo

Estamos todos na via Anchieta.

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Semana difícil, não o “difícil” por ter mil coisas pra fazer ou contas pra pagar, difícil porque cheia de perdas, morte de um bebê, morte de um jovem, morte de um vovô, amigos doentes... Mas, sentado no balcão da pizzaria, chega meu amigo/irmão Tiago e, nessas conversas que a gente tem no fim de um dia puxado, ele diz: o que vivemos aqui é uma parte muito pequena do que iremos viver depois. É como se estivéssemos na via Anchieta esquecendo que v amos passar as férias inteiras na praia. Que maravilhosa essa comparação. Lembrei das vezes que íamos pra praia. Nos feriados a estrada era um verdadeiro inferno. Tinha tanta coisa pra dar errado, que no fim era divertido. Um pouco como a vida. A vida é assim. Pegamos alguns trechos que tudo vai bem, estrada boa, sem trânsito, tempo bom. De repente o tempo muda, aparecem buracos na pista, muitas curvas e o interminável congestionamento... mas, isso tudo passa. Não é na estrada que vamos ficar. Ela não é o destino. Mesmo quando tudo va

Entre a Construção e Desconstrução e as dores humanas na sociedade

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Tiago Iorc surpreendeu com sua música Desconstrução e o diálogo óbvio com a Construção de Chico Buarque, e em ambas vemos as tragédias e indiferenças que marcam a modernidade, tanto no âmbito pessoal como social e cultural. Além da distância temporal entre as duas composições, há uma distância social, mas há um diálogo entre elas. A semelhante na construção da letra como a melodia, há uma "desconstrução" nos últimos versos, uma brincadeira, uma proposital nos adjetivos e substantivos, gerando novos significados àquelas palavras (ambos os artistas usam esse dispositivo). Cada um coloca as dores do seu tempo e de sua classe social. Infelizmente nossa sociedade ainda não superou a realidade mostrada por Chico Buarque, mas vê nascer novas formas de sofrimento, que na verdade estão arraigadas nas necessidades básicas da humanidade: aceitação, valoração, pertença, respeito e... amor. Ambas, de certa forma, apontam para as dores da sociedade de consumo. A música "Co

O silêncio do sábado

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Sempre me pergunto o que acontece no dia seguinte ao término de uma grande aventura. Como seria o “felizes para sempre”, a volta da lua de mel das princesas e príncipes? Na saga O Senhor dos Anéis, na última parte, após o personagem ter vivenciado todas as incríveis aventuras na terra Média, a volta à tranquilidade da vida cotidiana no Condado ficou pequena, vazia de significados... Pior ainda é quando a aventura não termina bem, quando o herói não cumpriu a sua jornada e quando parece que toda a esperança falhou... mas a história tinha que continuar... Nas aventuras da vida real também é necessário encarar o dia seguinte. O dia seguinte da festa de formatura, o dia seguinte do casamento dos sonhos, o dia seguinte da volta daquele intercâmbio incrível. E também dias seguintes mais terríveis e confusos... o dia seguinte da separação, o dia seguinte do anúncio de uma doença grave, o dia seguinte ao funeral de alguém querido. Lembro bem do gosto amargo desse dia seguinte.