Oi, tudo bem?


Uma vez ouvi um pastor falar sobre essa simples pergunta: tudo bem? Na verdade ele reclamou das pessoas que acabam respondendo com sinceridade, em meio a piadas, chamando de chatas e desagradáveis aquelas que ousavam ir além do “tudo bem sim”.

A congregação, como plateia de um show stand up, ria e concordava. Eu fiquei incomodado.

Se um pastor, cuja função seria ajudar as pessoas, reclama e zomba de quem acredita que poderia confiar a ponta de dizer que às vezes as coisas não estão bem, imagine o restante das pessoas? Foi decretado oficialmente o abafamento de qualquer sentimento, a exaltação das aparências, a opção pela não humanidade.

Sim, a gente acha chato quem se abre conosco. Se alguém vem contar algum problema, já fazemos questão de contar um maior ainda para a pessoa se tocar que não é somente ela que sofre, então fechamos a porta do diálogo e vamos vivendo nossas dores solitariamente.

É claro que não vamos despejar nossa vida a qualquer hora e a qualquer momento na vida das pessoas, mas a questão é que não permitimos que essa hora e esse momento aconteça, poucos são aqueles que se dispõe verdadeiramente a ouvir. Os encontros que queremos são aqueles festivos, num churrasco, numa festa de aniversário, numa saída a algum restaurante, todos bonitos, todos sorrindo (e esses momentos são preciosos sim), mas se não vão além deles, as relações vão ficando cada vez mais superficiais.

Quantas vezes, falando com amigos próximos, dei uma pequena travada para responder essa pergunta? Naquele milésimo de segundo passa muitos questionamentos: será que me abro? será que falo que nem tudo está bem? Será que na cabeça do outro vou virar o personagem risível daquela pregação?

E assim vamos caminhando e aprendendo a silenciar nosso coração e dar sorrisos simpáticos afirmando despreocupadamente que tudo está bem.

Como dizia Rubem Alves, não precisamos de cursos de oratória, mas de cursos de “escutatória”, para aprendermos a ouvir-nos uns aos outros, e assim, crescermos mutuamente com as histórias de dor e superação que cada um temos, com as histórias de vida, com os problemas ainda não resolvidos com os quais podemos nos identificar e perceber que não precisamos estar sozinhos no mundo.

Então eu pergunto a você, com os ouvidos e o coração aberto: tudo bem?

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