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Era uma Igreja muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...

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Fui ensaiar ontem o coro da Igreja Metodista em Rudge Ramos. Fazia um tempinho que não passava pelo bairro durante a semana. Na última vez que passei, ao redor da Universidade Metodista, estava tudo quieto e vazio. Lembrei dos velhos tempos, muita agitação, carros, jovens por todos os lados. Parecia que o coração do bairro tinha parado de bater. Talvez a universidade não seja propriamente o coração de Rudge Ramos, mas certamente é um órgão muito importante que traz (trazia?) vida e movimento ao bairro. Um órgão que ainda não está morto, mas está muito doente, e isso dói em mim. Da mesma forma a Universidade Metodista, principalmente a Faculdade de Teologia, é um órgão vital na vida da Igreja Metodista. Essa também muito adoecida. Feririam seu coração, a FaTeo, responsável pela formação essencial da vida da Igreja: a formação de seus pastores e pastoras. O colégio dos bispos encontra-se esvasiado, ou seja, a Igreja está com o coração doente e o cérebro aparentemente inoperante. Pessoalm

Chamados a compartilhar a fé, mas não a convencer ninguém.

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Os evangelhos contam a história de um jovem que era rico. Esse jovem era um verdadeiro cidadão de bem: cumpria as leis e todos os preceitos da religião, era um bom rapaz. Você pode ler essa história em Mateus 19: 16 a 23 (mas vale a pena ler até o versículo 30) e em Lucas 18: 18 a 30 e também em Marcos 10: 17 a 22. Um dia esse jovem encontrou com Jesus, o chamou de bom mestre e perguntou o que ele devia fazer para entrar no reino dos céus. A primeira resposta de Jesus foi: Porque você me chama de bom? Só tem um que é bom. Que desbaratinada de Jesus, não é? E Jesus acrescenta “para entrar no reino, obedeça aos mandamentos”. A resposta foi simples e direta, não é? Mas o jovem gente boa resolve perguntar: quais mandamentos? Jesus faz um resumão da lei e responde: “Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe e Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. O cara reponde que já está fazendo tudo isso, mas perguntou se faltava alguma coisa. Ser

Oi, tudo bem?

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Uma vez ouvi um pastor falar sobre essa simples pergunta: tudo bem? Na verdade ele reclamou das pessoas que acabam respondendo com sinceridade, em meio a piadas, chamando de chatas e desagradáveis aquelas que ousavam ir além do “tudo bem sim”. A congregação, como plateia de um show stand up, ria e concordava. Eu fiquei incomodado. Se um pastor, cuja função seria ajudar as pessoas, reclama e zomba de quem acredita que poderia confiar a ponta de dizer que às vezes as coisas não estão bem, imagine o restante das pessoas? Foi decretado oficialmente o abafamento de qualquer sentimento, a exaltação das aparências, a opção pela não humanidade. Sim, a gente acha chato quem se abre conosco. Se alguém vem contar algum problema, já fazemos questão de contar um maior ainda para a pessoa se tocar que não é somente ela que sofre, então fechamos a porta do diálogo e vamos vivendo nossas dores solitariamente. É claro que não vamos despejar nossa vida a qualquer hora e a qualquer mo

Estamos todos na via Anchieta.

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Semana difícil, não o “difícil” por ter mil coisas pra fazer ou contas pra pagar, difícil porque cheia de perdas, morte de um bebê, morte de um jovem, morte de um vovô, amigos doentes... Mas, sentado no balcão da pizzaria, chega meu amigo/irmão Tiago e, nessas conversas que a gente tem no fim de um dia puxado, ele diz: o que vivemos aqui é uma parte muito pequena do que iremos viver depois. É como se estivéssemos na via Anchieta esquecendo que v amos passar as férias inteiras na praia. Que maravilhosa essa comparação. Lembrei das vezes que íamos pra praia. Nos feriados a estrada era um verdadeiro inferno. Tinha tanta coisa pra dar errado, que no fim era divertido. Um pouco como a vida. A vida é assim. Pegamos alguns trechos que tudo vai bem, estrada boa, sem trânsito, tempo bom. De repente o tempo muda, aparecem buracos na pista, muitas curvas e o interminável congestionamento... mas, isso tudo passa. Não é na estrada que vamos ficar. Ela não é o destino. Mesmo quando tudo va

Entre a Construção e Desconstrução e as dores humanas na sociedade

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Tiago Iorc surpreendeu com sua música Desconstrução e o diálogo óbvio com a Construção de Chico Buarque, e em ambas vemos as tragédias e indiferenças que marcam a modernidade, tanto no âmbito pessoal como social e cultural. Além da distância temporal entre as duas composições, há uma distância social, mas há um diálogo entre elas. A semelhante na construção da letra como a melodia, há uma "desconstrução" nos últimos versos, uma brincadeira, uma proposital nos adjetivos e substantivos, gerando novos significados àquelas palavras (ambos os artistas usam esse dispositivo). Cada um coloca as dores do seu tempo e de sua classe social. Infelizmente nossa sociedade ainda não superou a realidade mostrada por Chico Buarque, mas vê nascer novas formas de sofrimento, que na verdade estão arraigadas nas necessidades básicas da humanidade: aceitação, valoração, pertença, respeito e... amor. Ambas, de certa forma, apontam para as dores da sociedade de consumo. A música "Co

O silêncio do sábado

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Sempre me pergunto o que acontece no dia seguinte ao término de uma grande aventura. Como seria o “felizes para sempre”, a volta da lua de mel das princesas e príncipes? Na saga O Senhor dos Anéis, na última parte, após o personagem ter vivenciado todas as incríveis aventuras na terra Média, a volta à tranquilidade da vida cotidiana no Condado ficou pequena, vazia de significados... Pior ainda é quando a aventura não termina bem, quando o herói não cumpriu a sua jornada e quando parece que toda a esperança falhou... mas a história tinha que continuar... Nas aventuras da vida real também é necessário encarar o dia seguinte. O dia seguinte da festa de formatura, o dia seguinte do casamento dos sonhos, o dia seguinte da volta daquele intercâmbio incrível. E também dias seguintes mais terríveis e confusos... o dia seguinte da separação, o dia seguinte do anúncio de uma doença grave, o dia seguinte ao funeral de alguém querido. Lembro bem do gosto amargo desse dia seguinte.

Flores e frutos | Sobre a importância de não perder os objetivos

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Eu gosto de flores. Sobretudo de fotografar flores na natureza, com suas cores, sua beleza, até suas imperfeições, que as tornam peculiares. Elas chegam com a primavera, que carrega em si o simbolismo da renovação, de início de novos ciclos (sobre tudo no hemisfério norte, onde o inverno é bem mais rigoroso). Mas assim como as outras estações (do ano e da vida), a primavera é passageira, faz parte de um ciclo contínuo, e as flores também fazem parte de um ciclo natural, não são eternas, são tão efêmeras quanto belas. Gostamos de vê-las, de usá-las nos momentos mais importantes de nossa vida (nas festas de 15 anos, nos casamentos, nos enterros), talvez justamente por sabermos que, assim como as flores, esses momentos, por mais marcantes que sejam, passam. São belos e efêmeros como elas. O objetivo das flores na natureza é despertar a atenção, é ser um outdoor de cores e odores, é a publicidade da vida que chama para si para levar a algo além. Toda a beleza e pe